sábado, 14 de agosto de 2010

A revolta da vacina

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CAPÍULO IV – CIDADÃO ATIVOS: A Revolta da Vacina

Livro: Os Bestializados -  José Murilo de Carvalho


Objetivo:  Analisar  a composição e as motivações justificadoras da Revolta da Vacina:

           

            1o aspecto importante – 80% da população do Rio de Janeiro não tinha acesso a cidadania.

            à Mas, o fato não significa que a população não estivesse atenta e disposta a defender o seus interesses


            2o aspecto – Contexto da política nacional

            Em 1904 – Presidente Rodrigues Alves (substituiu Campos Sales)

                                   Campos Sales realizou um governo anti-popular à recessão; redução do meio circulante; contenção de gastos do governo e aumento de imposto à Conseqüência: insatisfação por parte dos proprietários e desemprego


            Rodrigues Alves – a partir de um programa intensivo de obras públicas (com financiamento externo) à iniciou processo de recuperação econômica.


n  PROGRAMA DE OBRAS: Obras de Saneamento e de Reforma Urbana do Rio de Janeiro


Destacam-se duas figuras:

n  Engenheiro Pereira Passos – nomeado Prefeito;

n  Médico Oswaldo Cruz – Diretor do Serviço de Saúde Pública


OS DOIS RECEBERAM PODERES QUASE DITATORIAIS


n  PEREIRA PASSOS ESTABELECEU UM AMPLO PROGRAMA DE REFORMA URBANA ABRINDO AVENIDAS, DESAPROPRIANDO CASAS, DERRUBANDO PRÉDIOS

Dados: contratados cerca de 1800 operários;
             Derrubados 640 prédios
             Obras no Porto

                         Como um todo: obras se iniciam em 1903 e se intensificam em 1904 (Setembro: inauguração do eixo da Avenida Central) à contava com serviços de bondes e inauguração elétrica


No âmbito da saúde:   Oswaldo Cruz enfrentou:

1o – febre amarela -  extermínio do mosquito;
                                  isolamento dos doentes;

2o – peste bubônica – exterminação de ratos e pulgas;
                                   limpeza e desinfecção de ruas e casas


AÇÃO EXIGIA visitas às casas, interdições, cobrança de medidas sanitárias

Exemplo: no 2o semestre de 1904 – 153 ruas visitadas, 110 224 visitas domiciliares, 12 971 intimações, 626 interditos

RESULTADO DIRETO SOBRE A VIDA DAS PESSOAS: principalmente operários e donos de cortiços e casas de aluguel

3o passo enfrentar a varíola – desde 1801 foi introduzida a vacina de Jenner e várias leis para a obrigatoriedade da vacina foram estabelecidas, embora nem sempre pegaram (penas de multa)


29 de junho – Senado aprovou projeto de obrigatoriedade
18 de agosto – Câmara também aprovou o projeto

Lei apresentava um problema: tinha apenas 2 artigos
1o – tratava da obrigatoriedade;
2o – indicava que medidas regulamentares seriam baixadas para a aplicação.

A FALTA DE CONHECIMENTO AUMENTAVA A RESISTÊNCIA:

à POSITIVISTAS: tenente-coronel Lauro Sodré, major Barbosa Lima e do deputado Alfredo Varela

Ainda tinham-se os Jornais de oposição: Correio da Manhã e Commercio do Brazil

MOTE DA CAMPANHA DE OPOSIÇÃO:  era o direito do povo de resistir à vacinação, pois a lei era anticonstitucional

POSITIVISTA, por sua vez, afirmavam:
a)         Comte teria sido contrário à teoria microbiana das doenças;
b)        Intromissão do governo no domínio da saúde à reservado ao poder espiritual


   SITUAÇÃO: Jornal o Paiz publicou em 14 de outubro entrevista com J.J. Seabra (Ministro da Justiça) declarando que a vacina seria aplicada com prudência e sem vexames e atropelos.


NO ENTANTO:

Cerca de 15 mil assinaturas foram colhidas contra a obrigatoriedade. Estima-se que 10 mil de pessoas que se diziam operárias


O ESTOPIM:

No dia 10 de novembro, Jornal a Notícia publica nota de reunião realizada por Oswaldo Cruz e seus assessores, onde se previa várias sanções contra aqueles que não recebessem a vacina:

Além disso, o atestado de médico particular só seria aceito com firma reconhecida e seria utilizado para: matrícula em escola, emprego público, doméstico e em fábricas, hospedagem, casamento, voto, etc.

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HOUVE IMENSO ALARIDO

Nos dias 11 e 12 o Jornal A Notícia entrevistou membros do governo, que desmetiram o documento, mas a revolta estava nas ruas.

CRONOLOGIA

Dia 10 de novembro – meetting de estudantes (Rua do Ouvidor) à estudante Jayme Cohen foi intimado a ir para a delegacia à População reagiu à prisão

Perto da Praça Tiradentes – conflito entre manifestantes e polícia (15 presos – dos quais 5 estudantes)

Dia 11 – Largo São Francisco – (episódio das bombinhas) – correria até a Praça Tiradentes e o largo do Rosário (18 pessoas presas)

Dia 12 (sábado) reunião para formação da Liga contra a Vacinação.

-Encenação de garotos leva a ataque da polícia e troca de agressões (foram utilizadas bombas de brinquedo e depois, tiros de revólver)  - após às cinco da tarde

Às  oito (Centro) – reunião. 4 mil pessoas (todas as classes, incluindo militares). Discurso Lauro Sodré e Barbosa Lima – pediram resistência com prudência.

Multidão se encaminho à Lapa e Glória. (episódio de Vaias, tiros)

Cavalaria na rua e recolhimento de alunos da Escola de Tática do Realengo.

13 de novembro (domingo) – Conflito mais violento. Povo convocado pelo Correio da Manhã para Praça Tiradentes. Acompanhar votação de substitutivo.

Apedrejamento ao carro do chefe da polícia. Polícia descarregou sobre a multidão. Luta se espalhou pelas ruas adjacentes

Bondes foram atacados. Foram quebrados combustores de gás e cortados fios de iluminação

SURGIRAM AS BARRICADAS. Adesão de Prostitutas. Ataques às delegacias, quartel de cavalaria (na Frei Caneca). Assaltos ao gasômetro e companhias de bondes. Árvores foram arrancadas.

Tiroteio penetrou a noite. 22 bondes destruídos, 100 combustores danificados, 700 inutilizados. Vários populares e 12 praças feridos e pelo menos um morto.

Dia 14 – região de Sacramento  e Saúde – 2a Delegacia foi tomada, cerca de 2 mil manifestantes se entrincheirados (jornal do Commercio)

À noite – conflito entre Cavalaria e populares. 3 mortos (rua do Regente)

Na região Central  - tiroteio entre guardas civis e soldados do Exército (comandados por Varela)

Cidade dividida em três setores (Marinha, Exército e Polícia)
Trens buscaram reforços de São Paulo e Minas Gerais (pág. 107)

Tropas do Exército se insurgem (Escola Militar da Praia Vermelha)

300 cadetes marcharam. Parte das tropas de repressão aderiram aos revoltosos. Lauro Sodré desapareceu.

3 mortos e vários entre revoltosos. 32 feridos do lado do governo

15 de novembro – continuidade dos conflitos. Novidade. Cerca de 600 operários fizeram barricadas e atacaram a 19a Delegacia. Um cabo da guarda foi  morto

Reforços chegam. Possibilidade de bombardeio por parte da Marinha

16 de novembro – Estado de sítio

Tomada da região chamada de Porto Artur. Utilização do couraçado Deodoro. Prisão do Prata Preta (pp. 110 e 111)

Líderes: Prata Preta; Manduca Pivete; Bombacha; Chico da Baiana

Dia 18 – cidade quase que voltara ao normal. Tiroteio: 3 mortos e 80 presos..

Do dias 18 a 23 – Polícia fez varredura das ruas e prendeu suspeitos. Enviando muitos deles para a Ilha das Cobras. Dia 23, número de presos chegava a 700.

A HISTÓRIA DA REVOLTA DA VACINA

O autor procura demonstrar que de acordo com a forma como agiu, por um lado, a policia (não fichando todos os detidos na Revolta) e, por outro, a imprensa, que de forma geral, não atribuiu um caráter popular à revolta da Vacina, criou-se um pano de fundo para desqualificar o movimento.
Assim, se revoltaram os desordeiros, ladrões. Alguns estrangeiros anarquistas. O “bom povo” se recolheu à sua casa e esperou tudo acabar.
Era a deslegitimação do movimento, o que, por sua vez, deslegitimava as reivindicações e tensões sociais.

Motivações

Havia um conjunto de motivações (sociais, econômicas e políticas) que se encontravam diluídas por uma sociedade fragmentada.
Mas, foi o componente moral (expor braços e colos das esposas e filhas) que criou o caldo de  cultura, a partir do qual as tensões sociais, econômicas e políticas se fizeram sentir.

Por essa razão, é necessário olhar com atenção a Revolta da Vacina, observando a diversidade de atores e os anseios expostos.


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