domingo, 22 de agosto de 2010

O que é história cultural

Resumo do livro: O que é História Cultura (fechamento crítico) Peter Burke

INTRODUÇÃO.

            Este trabalho visa esclarecer a idéia sobre o nascimento da História cultural, apresentando também seu desenvolvimento através do templo, assim como seu estágio atual. A partir de alguns questionamentos, o autor aborda o papel do historiador cultural através das diversas ciências humanas que ao lado da história, estuda o desenvolvimento humano.
            O autor faz duas abordagens diferentes, mais que se complementam: “abordagens interna e externa”. (P. Burke 2004, p 8). Na abordagem interna, a História estuda o passado através das artes, procurando uma ampliação do conhecimento de uma cultura, evitando a fragmentação proposta por outro tipo de História. Na abordagem externa ele fala de uma transformação “virada cultural” nas ciências humanas, que passou a focar seus estudos em grupos particulares, em tempo e espaço específicos.
            Diante da dificuldade de dar uma definição para a História cultural, o autor procura mostrar como os vários autores desenvolvem seus estudos de maneiras diversas: “intuição”, “procura de significados”, “as práticas e as representações”, “história como narrativa”, são alguns exemplos dessa diversidade. No entanto, “a preocupação com o simbólico e suas representações”.(P Burke, 2004, p 10) é o ponto comum entre todos os historiadores culturais.
            O livro trata das constantes transformações que a história vive em função das circunstancias, a ela impostas, e das várias tradições (alemã, inglesa, francesa, norte-americana, etc.) que às vezes se assemelham, às vezes se divergem. Seguindo uma ordem cronológica o livro expõe as diferentes formas de escrever a historia cultural através dos tempos.

CAPITULO 01: A GRANDE TRADIÇÃO


            Nesse capítulo mostraremos um esboço da Historia cultural, veremos que ela era praticada na Alemanha no séc. XIX, e pode ser dividida em quatro fases que se entrelaçam entre si: “a fase clássica”, “a fase da história social da arte” (até 1930), “a fase da descoberta da história da cultura popular 1960”, e a “fase da nova história cultural”, (Peter Burke, 2004, p15-16). No entanto, essa não é uma divisão clara, e só se torna perceptível quando é estudada através de acontecimentos que evidenciam suas semelhanças e suas continuidades.

HISTÓRIA CULTURAL CLASSICA

Retratos de uma época.

            Podemos chamar de História cultural clássica o período de 1800 a 1950, que foi marcado pelos lançamentos de dois clássicos da História. São eles: “A Cultura do Renascimento na Itália do historiador suíço Jacob Burkhart 1860, e Outono da Idade Média do historiador holandês Johan Huizinga”, (Peter Burke, 2004, p16). Esses historiadores preocupavam-se em estudar as relações existentes entre as diferentes artes, articulando suas conexões, tentando a aproximação entre os elementos estudados e assim pintavam o que podemos chamar de “retratos de uma época”. (Peter Burke, 2004, p16)
            Burkhardt estudava de forma intuitiva, enfatizando os elementos “recorrentes, constantes e típicos”, (Peter Burke, 2004, p18), que ele considerava essencial para estabelecer uma conexão de aproximação entre os diferentes objetos de seus estudos. A arte e a literatura, já música e a política eram estudadas como fontes para o desenvolvimento de seus trabalhos.
            Huizinga procurava mostrar as características de um lugar no templo e no espaço através dos padrões de cultura que poderiam ser estudados por meio dos “temas”, “símbolos”, “sentimentos” e “formas”. (Peter Burke, 2004, p19).
            Esses elementos eram considerados fundamentais para desenvolvimento de suas obras. Ele também dava muita importância às idéias de indivíduo, esses sempre estavam presentes em suas obras.

DA SOCIOLOGIA Á HISTÓRIA DA ARTE.
            Nesse item o autor procura explicar a contribuição de outras ciências e de outros autores para a historia cultural. Citando trabalhos, tais como: A Ética Protestante e Espírito do Capitalismo do sociólogo alemão Max Weber, que procura estabelecer uma conexão cultural entre a ética religiosa pregada pelo protestantismo e a ascensão da sociedade capitalista; O Processo Civilizador de outro sociólogo alemão, Norbert Elias considerado em sua essência, como sendo uma história cultura: Mal-estar na civilização de Frued, que relaciona cultura com sacrifícios sexuais e agressivos. Aby Warburg, um leigo interessado na filosofia, psicologia e antropologia (Peter Burke, 2004, p21) procuravam desenvolver estudo de aproximação entre essas disciplinas, evitando estabelecer limites bruscos de diferenciação que ele chamou de “polícia de fronteira” (Peter Burke, 2004, p21) estudando a “tradição clássica e suas transformações através dos tempos”, (P B 2004, p21) ele desenvolveu os esquemas es as fórmulas culturais, idéia que por sua vez, passou a influenciar historiadores e outros estudiosos como: Karl Popper e Hans Gerg Gadamer, no entanto, essa influencia se tornam mais visível na obra de Ernst Gombrich, Arte e Ilusão, onde descreve a importância de se fazer correções constantes, para a aproximação da realidade. Outro estudo importande influenciado por Warburg, foi à conferência sobre “Arquitetura gótica e Escolástica” de Erwin Panosfsky, onde ele defende a importância da iconologia para a interpretação de imagens. Panosfsky dizia que os movimentos surgidos na mesma época e no mesmo espaço tinham conexões entre si e usava como exemplo a arquitetura e a filosofia.

            A GRANDE DIÁSPORA

            O movimento de emigração provocado pela ascensão do nazismo, a partir de 1930, levou alguns estudados da Alemanha para outros países, especialmente Estados Unidos e Inglaterra. Nos Estados unidos predominava a idéia de civilização inclusive com curso obrigatório sobre “civilização ocidental”, em colégios e universidades. No campo de pesquisas a ênfase era voltada para a “história das idéias” e não para a história cultural. Na Inglaterra começa a escrever sobre história cultural, porem, não era uma regra e sim uma exceção.
            A grande diáspora teve papel fundamental no desenvolvimento cultural, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. Esse desenvolvimento proporcionou o encontro de estudiosos tanto do círculo Warburguiano que se interessava pelas evidências históricas, como de marxista que preocupava com a “relação entre cultura e sociedade” (Burke, 2004,p 26 “)”.
           
CULTURA E SOCIEDADE

            A cultura e sociedade já eram discutidas antes da grande diáspora. Nos Estados Unidos, o casal, Charles Beard e Mary Ritter Beard eram os principais representantes: ela defendia um estudo sobre as mulheres e ele em sua obra “The Rise of American Civilization (Burke, 2004, p 27) procurava apresentar um argumento econômico e social para as transformações sociais. Na Inglaterra essa discussão teve ênfase com a chegada de um grupo de estudiosos da Europa Central, os principais entre eles eram húngaros: Karl Mannhein e Arnold Houser, sociólogos e Frederick Antal, historiador. Esses estudiosos, na sua maioria de influência marxistas procuravam estabelecer relação entre a mentalidade conservadora, as artes e a cultura social”.

            A DESCOBERTA DO POVO

            Inicialmente, a cultura popular foi deixada de lado pela história cultural, não se sabe se por preconceito ou por omissão dos estudiosos de classe média. O fato é que ela só passou a ser estudada após 1960.
 O historiador Eric Hobsbawm, sobre o pseudônimo de “Francis Newton (Burke, 2004, p.29) foi um dos primeiros a estudar esse tema em sua obra” A Historia Social do Jazz “, onde discutia o surgimento e o público da música como protesto social e político. Porem, Edward Trompson com o livro A formação da classe Operária Inglesa (1963) viria se tornar o principal personagem nesse estudo, ele foi além em seu estudo no papel desempenhado pelas mudanças econômicas e políticas na composição das classes, examinando os modos e ações que forma a base da cultura popular. Trompson também influenciou outros historiadores, como Raphael Samuel fundador da revista History Workshop”.

            CAP. 02: PROBLEMAS DA HISTORIA CULTURAL

            Não podemos negar a importância de Burkhardt, e Huizinga para a História Cultural. Mas se torna necessário questionar alguns problemas em suas obras: as “fontes, os métodos e as suposições”. (Burke, 2004, p 32).

            OS CLASSICOS REVISITADOS

            Uma dos questionamentos que deve ser feitos é sobre as quantidades de fontes. O historiador cultural não deve olhar seus objetos de estudos como sendo os únicos, a serem estudados, muitos menos, tratá-los como verdades absolutas. Em Outono da Idade Média, Huizinga é acusado de usar poucas fontes. E, em Seu livro sobre a Grécia, Burkhardt, defende a “confiabilidade relativa”. (Burke, 2004, p 33). Segundo o qual as fontes podem ser mentirosas. Em contradição ele cita o grau de certeza produzido pelas fontes, já que essas são geradas de modo não intencional e voluntário. O fato é que o historiados precisa fazer sempre a crítica da fonte, indagar o porque da criação desta, quando foi elaborado e qual seu propósito.
            Diante das críticas feitas a Burkhardt, e Huizinga, de serem “impressionistas e anedóticos” (Burke, 2004, p 34) cabe fazer a seguinte pergunta: “a historia cultural esta condenada a ser impressionista? (Burke, 2004 p 34) Para responder essa questão o historiador precisa fazer a análise em série do conteúdo, abordando os motivos que levaram os autores das fontes a revelarem uma mudança de comportamento. Outro problema a ser estudado são as suposições, levantado por Ernst Gombrich, (Burke, 2004, p 36)m onde critica as abordagens de Huizinga, Burckhardt e aos marxistas por construírem sua história cultural sobre os” alicerces hegelianos ““.

            DEBATES MARXISTAS

            Os historiadores marxistas fazem suas críticas, à abordagem clássica da cultura, por não discutir a base econômica e social, generalizando a cultura, e ignorando a diversidade, sem dar mérito às temporalidades de cada grupo.

            PROBLEMAS DA HISTORIA MARXISTA

            Surgem aí duas correntes de historiadores marxistas os que defendem o “culturalismo” que dá ênfase nas experiências e nas idéias; e aqueles defensores do “economicismo” que preferem as realidades econômicas sócias e políticas. Essa divisão levou a uma crítica mais profunda do marxismo: a questão da fundação econômica e social ou “base” e uma superestrutura “cultural. (Burke, 2004, p 37) Passou a ser contestada, pois era considerada muito rígida. Alguns autores como Antonio Gramsci e Trompson passaram a defender a idéia de” hegemonia cultural “. Essas discussões levaram o autor a uma questão fundamental “; é possível estudar as culturas como um todo, sem fazer falsas suposições sobre a homogeneidade Cultural?” (Burke, 2004, p. 38) como respostas o autor sugere estudar as tradições culturais e dar um novo tratamento às culturas erudita e popular, elas passariam a ser chamada de “subculturas”.

            OS PARADOXOS DA TRADIÇAO

            Neste item o autor chama a atenção para a idéia de como a tradição é tratada. E, vê nessa forma tradicional de tratar a tradição, dois problemas. O primeiro “é uma aparente inovação que pode mascarar a persistência da tradição. (Burke, 2004, p. 39), ou seja, a tradição prevalecer sobre a inovação. O segundo é o inverso, a inovação prevalecer sobre a tradição. É quando os seguidores defendem apenas as idéias que lhes interessam, distorcendo a idéia principal. Há ainda, o que ele chama de” conflito interior das tradições “(Burke, 2004, p.40) que é a discordância entre as idéias universais e as particularidades do momento”.

            CULTURA POPULAR EM QUESTÃO

            Existe uma grande dificuldade em distinguir a cultura erudita da cultura popular. Essa dificuldade começa quando precisamos definir quem é o “povo”. São todas as pessoas? Ou a elite não pode ser chamada de povo? Diante dessas questões, muitos teóricos, preferem falar de "culturas populares" porque assim no plural elas se tornam mais abrangentes. Também podemos usar o termo “subculturas” para dar mais flexibilidade e autonomia.
            Para Roger Chartier, os estudos devem focar os grupos sociais, e não os objetos e as práticas, pois o mesmo grupo pode ser “biculturais” ou mesmo mudar de uma cultura para outra.

            O QUE É CULTURA

            Este item mostra a variedade de maneiras, como a cultura pode ser definida. Ela pode ser entendida como sendo de determinada classe, como também pode se referir às artes e as ciências ou aos costumes populares.
            A antropologia, por meio de Edward Taylor definiu cultura, como sendo “todo complexo que inclui conhecimento, crença arte, moral, lei, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. (Burke, 2004, p.43) A historia cultural adotou essa definição antropológica da cultura, por considerá-la mais ampla.

            CAP. 3: A VEZ DA ANTROPOLOGIA HISTÓRICA
           
            A essa tendência, em que muitos historiadores passaram a aceitar o termo “culturas” no plural porque dava um sentido mais amplo, o autor chamou de virada em direção a antropologia “(Burke, 2004, p.44)”.

            A EXPANSÃO DA CULTURA

            Essa “virada cultural” não aconteceu apenas com a historia. Outras disciplinas como a psicologia, a sociologia, a geografia, etc., também tomaram essa direção, isso levou Samuel P. Huntingtom a falar em “choque de culturas”. (Burke, 204, p.45). Essa tendência desencadeou no aparecimento de uma variedade enorme de culturas: da imprensa, do jogo, etc.
            A expressão “nova historia cultural” (Burke, 2004, p.46) apesar de nascida nos Estados Unidos espalhou rapidamente por vários países, exceto a Inglaterra, onde ainda predomina os chamados “estudos culturais”.

            EXPLICAÇÕES CULTURAIS

            Alguns historiadores têm deslocado seus interesses de medidas objetivas, para percepção de mudanças na sociedade. Um exemplo disso é F S Lions no seu livro “Culture and Anarchyk in Irlanda, onde ele divide seu país em quatro culturas diferentes: a da Inglaterra, a da Irlanda, a anglo-saxônica e a dos protestantes de Uster. (Burke, 2004, p.47) e relaciona os conflitos existentes com as diferentes culturas. Essa leitura da cultura do cotidiano das pessoas comuns, é que aproxima a historia da antropologia”.

            A HORA DA ANTROPOLOGIA HISTÓRICA

            Os historiadores passaram a estudar alguns antropólogos, entre eles Marcel Mauss, Edward Evans-Prichard, Mary Douglas e Clifford Geertz, esses faziam seus estudos, sobre o cotidiano, as festas tradicionais e religiosas e as feitiçarias, ou seja, o dia-a-dia das pessoas comuns. Esse trabalho antropológico chamou a atenção dos historiadores, para o eles chamaram de “estruturalismo” ou “o estudo das relações entre os elementos de um sistema cultural e social, focalizando as oposições binárias (Burke, 2004, p.50)”.
            Dentre os antropólogos, o que mais influenciou os historiadores foi Clifford Geertz com sua “teoria interpretativa da cultura” onde ele enfatiza a importância dos significados dos símbolos para a comunicação dos homens através do conhecimento. Ele vê nas brigas de galos em Bali, um objeto para a interpretação da cultura balinesa e chama isto de “drama filosófico”. Neste trabalho geertz teve a influencia do teórico da literatura kenneth Burke e sua “abordagem dramática” da cultura.
            Outro antropólogo de grande importância para a historia foi Victor Turner e aquilo que ele chamou de “drama social”, observando os conflitos na África, ele propôs uma divisão desses, em quatro fases: “ruptura das relações sociais normais, crise, tentativa de uma ação de reparação e finalmente, reintegração ou, alternadamente, reconhecimento do cisma” (Burke, 204p. 52-53).
            O exemplo dessa influencia de geertz aparece bem claro no livro de Robert Darnton, o Grande Massacre dos Gatos, nesse trabalho, ele relaciona o ritual feito por um grupo de aprendizes de uma tipografia, para se livrar dos gatos, com a visão de mundo que eles tinham da Europa pré-industrial. Mas o que mais aproximou a historia da antropologia e principalmente das obras de Geertz, foi o que ele chamou de “analogia do drama” que faz uma ponte de ligação entre a preocupação com a alta cultura e o novo interesse pelos fatos do cotidiano. Dessa forma percebemos que a virada antropológica se deu devido a alguns clássicos da antropologia, mas também pela reação consciente ou inconsciente dos historiadores, às mudanças do mundo.

            AO MICROSCÓPIO

            Aqui o autor faz uma analogia com micro-história (microscópio) que surge para se contrapor à história grandiosa (telescópio). A micro-história surgiu na Itália com os historiadores Carlo Ginzburg, Geovane Leve e Edward Grendi, com o seguinte propósito: reagir contra um modelo de história social que privilegiava, as tendências gerais sem levar em conta a variedade e a especificidade das culturas locais; fazer com que experiências concretas, individuais ou locais voltassem à história; proporcionar que a cultura dos pequenos grupos sociais, assim como, as realizações e contribuições das pessoas comuns participassem da história.
            As duas principais obras desse movimento foi Montaillou de Emanuel Lê Roy Ladurie (1975) que conta à história de uma pequena aldeia de Pirineus, seus hábitos e valores familiares; e, O Queijo e os Vermes (1976) de Carlo Ginzburg, conta à história de um fabricante de queijos. Os dois livros baseiam na Inquisição e retratam as tradições e as visões de mundo das pessoas simples pertencentes às classes subalternas. Isso explica a importância dessas obras para a nova história cultural.

            PÓS-COLONIALISMO E FEMINISMO

            A história narrada pela civilização ocidental não dava importância às lutas pela independência dos países do terceiro mundo, nem aos debates pelo fim da dominação econômica, apresentando assim os preconceitos que persistiram depois do fim da colonização. Neste contexto, Edward Said escreveu o livro, Orientalismo (1975). Nesta obra ele mostrava a oposição preconceituosa entre o Ocidente e o Oriente, e como alguns acadêmicos, que ele chamou de “orientalistas profissionais” contribuíam para isso.
            Neste mesmo sentido de lutas contra o preconceito e pela liberdade, é a obra “História das Mulheres no Ocidente” (1990-92) de Georges Duby e Michele Perrot, que trata da educação das mulheres, da visão masculina sobre a mulher, etc. Essa e outras obras citadas neste capítulo tratam do universo feminino, de suas lutas, e visões de mundo. Temas importantes para a “nova história cultural”.
           
CAP. 4                       UM NOVO PARADIGMA

            O surgimento da expressão “nova historia cultural” foi em 1987, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, em um seminário sobre a História Francesa: texto e cultura (Burke, 2004, p.68). Essa “nova” história se distinguia de outras formas de escrever história até então existente, enfatizando as mentalidades, suposições, e os sentimentos se tornando assim mais eclética e imaginativa. Uma outra preocupação da NHC é a teoria ou teoria cultural, que proporciona ao historiador a consciência de problemas já existentes e ao mesmo tempo o surgimento de novos problemas.
            Outra idéia importante para a NHC é a de “suplemento” defendida por Jacques Derrida (Burke, 2004, p.70) onde ele destaca a importância dos detalhes para a formação da idéias principal.

            QUATRO TEÓRICOS

            Este item visa expor ao leitor as idéias de quatro nomes de suma importância para a NHC: Mikhail Baktin, Norbert Elias, Michel Foucault e Pierre Bourdieu. Essas são para serem pensadas, testadas e investigadas de acordo com cada tema.

            AS VOZES DE MIKHAIL BAKTIN

            Teórico russo, Baktin foi o autor de conceitos importantíssimos para a NHC: “carnavalização”, “destronar”, “linguagem de mercado” e “realismo Grotesco”, (Burke, 2004, p.71).
            Outras importantes idéias de Baktin, não receberam a importância que mereciam: “polifonia”, “poliglossia”, ou “heteroglossia”, essas defendiam a importância dos gêneros de falas e as diversas formas que podem ser ouvidas no texto.

            A CIVILIZAÇÃO DE NORBERT ELIAS

            O sociólogo Norbert Elias foi o defensor de conceitos como “a fronteira da vergonha”, e “fronteira da repugnância”, que segundo ele excluía a sociedade educada de algumas formas de comportamentos; “pressão pelo autocontrole”, “competição”, “habitus” e “figuração”. Foi sempre interessado pela história. Sua obra, O Processo Civilizador (1939), apesar de ser muito criticado por parte dos historiadores culturais, é considerada muito importante para NHC, como instrumento de pesquisa, isso se deve a sua teoria social e cultural.

            O REGIME DE MICHEL FOUCAULT

            As três idéias de Foucault que mais contribuíram para NHC, foram: em primeiro lugar a de “genealogia” que destaca os efeitos dos “acidentes”, a descontinuidades culturais ou rupturas; em segundo lugar, considerava os sistemas de classificação “epistemes” ou “regime de verdades”, como “expressões de uma determinada cultura e ao mesmo tempo forças que lhe dão formas”. (Burke, 2004, p.75) Ele também defendia os discursos coletivos como objetos de estudos; em terceiro lugar enfatizava a “microfísica” do poder, e as “praticas discursivas” que segundo ele constituem primeiro o objeto e depois a análise da cultura ou sociedade como um todo. Enquanto o “olhar” era a expressão da “sociedade disciplinar moderna”. (Burke, 2004, p. 76).
            Em sua obra, Vigiar e Punir, (1975) ele mostra a estrutura das escolas, prisões, fábricas, hospitais e quartéis como sendo adequada para a produção de corpos dóceis. Essas instituições facilitam o controle e a vigilância.

            OS USOS DE PIERRE BOURDIEU

            Bourdieu foi primeiro fisósofo depois antropólogo e sociólogo, desenvolveu conceitos e teorias importantes para os historiadores culturais. São eles: conceito de “campus”, a teoria da prática, a idéia de reprodução cultural e a noção de “distinção”.
            O conceito de “campo” é o que estabelece uma autonomia de determinada cultura produzindo suas próprias convenções culturais. Não teve muita aceitação entre os historiadores. Já teoria de “reprodução cultural” questiona a autonomia e a imparcialidade do sistema educacional francês teve mais aceitação. Também foi bem aceita, a “teoria da prática” especialmente, o conceito de “habitus”, que segundo ele, se sustenta numa estrutura de esquema inculcadas na cultura das pessoas.
            As idéias e teorias defendidas por esses quatro teóricos levaram os historiadores a se preocupar com as representações e as práticas que são duas das características da NHC.

            PRÁTICAS

            O autor vê “as práticas” como um dos paradigmas da NHC, e mostram uma virada em direção as práticas em oposição à teoria. Em contradição a história das práticas passou a ser uma das áreas mais estudadas pela a teoria social. Nessa perspectiva autores como Norbert Elias, Bourdieu e Foucault, antes vinculados às práticas, agora a estão inserido no campo das idéias.
            Temas como a história da linguagem, a prática religiosa, a história da viagem, passaram a serem estudados e vistos como dimensão histórica e até ganharam publicações específicas.
            A história das práticas também vem avançando sobre áreas tradicionais da história da cultura como o estudo do renascimento, como o humanismo antes focado nas idéias e hoje voltado para as atividades como as formas de escrever, falar etc. Outro tema importante são as coleções que passaram a ser estudada pelos historiadores da arte e da ciência, tendo como foco principal à “cultura da coleção” que estudava o que era colecionada, qual era sua organização e suas categorias básicas, assim como os acessos às coleções.
            Na história das ciências o foco se deslocou da história intelectual para as práticas cotidianas da experimentação e dos métodos.
            A HISTÓRIA DA LEITURA

            O autor procura mostrar aqui como se desenvolveu ao longo do tempo uma mudança nas práticas de leitura, focando o papel do leitor, e como ele foi desenvolvendo novas técnicas de leitura.
            No ocidente o autor cita três mudanças ou deslocamentos ocorridos e que são bem perceptíveis: “da leitura em voz alta para a leitura silenciosa; da leitura em público para a leitura privada; e da leitura lenta ou intensiva para a leitura rápida ou extensiva”. (Burke, 2004, p.83) Essas mudanças ocorreram devido à multiplicação das produções literárias que levou o leitor a procurar novos métodos para tentar acompanhar essa velocidade das informações. Ele também cita mudanças importantes como a de iluminação e mobília na Alemanha do séc. XIX, e a adaptações da metodologia para estudar os sistemas de escritas dos japoneses e a ascensão do mercado de livros na Rússia nos anos 90.

            REPRESENTAÇÕES

            Reagindo às críticas feitas por Michel Foucault de que os historiadores escreviam “uma idéia empobrecida do real” “que não deixava lugar para o que é imaginado”. (Burke, 2004, p.84)n Algumas obras foram lançadas, por exemplo: As três ordens (1978) de Georges Duby, sobre a composição do Estado na sociedade medieval segundo o qual se dividia em “três estados”: os que rezam os que lutam e os que trabalham, que queria dizer, o clero, a nobreza e o “terceiro estado”. O Nascimento do Purgatório (1981) de Jacques Le Goff, explica como surgiu a idéia do purgatório no contexto da idade média. (Esses dois livros apresentam uma representação do imaginário da época).
            O autor ainda cita a obra de Keith Tomas, Man and the Natural World (1983) que mostra uma mudança de comportamento na Inglaterra entre 1500 e 1800, do homem em relação à natureza. E no campo literário, as representações projetadas no “outro”, como uma preocupação que aparece na obra “Orientalismo” de Said.

            ORIENTALISMO NA MUSICA

            Procura mostrar como alguns musicólogos reagiram ao orientalismo, de Said e o que foi feito para esclarecer esta questão. Numa discussão sobre a obra Aída, de Verdi, Said reafirma sua posição, dizendo que o oriente é tratado como “um lugar exótico, distante e antigo, onde os europeus pode ostentar seu poder”. (Burke, 2004, p.87).
            Em outro estudo Ralph Locke faz uma análise sobre Sansão e Dalila, de Saint-Saens e percebe o mundo da Bíblia, como uma representação do Oriente Médio do séc. XIX. E, que o “outro” feminino apresentado em Dalila, retira essa oposição binarista característica do orientalismo.
            Em estudo feito por Richard Taruskin sobre orientalismo na Rússia do séc. XIX, revela oposição binária entre o russo e o oriental em músicas exóticas, porém, essa oposição não foi percebida pelo público francês que as consideraram como sons tipicamente russos.

            A HISTÓRIA DA MEMÓRIA

            Aqui o autor nos fala da expansão da historia da memória, que às vezes se apresenta como história social, outras como memória cultural. Ele também lembra o fato que a amminésia social ou cultural não estar tendo o mesmo tratamento. Segundo ele, esse interesse pela memória provavelmente seria devido à rapidez das transformações culturais e sociais, que podem fazer nossa identidade cair no esquecimento.
            O autor faz uma alerta para o fato de a história da memória, usar de esquemas ou estereótipos que ajudam a perpetuar a memória, porém, pode provocar distorção. Outro problema seria a contaminação da memória por ideologias pré-existentes como, por exemplo, idéias religiosas, e políticas onde, a história contada pelos vencedores é diferente da história contada pelos vencidos.

            CULTURA MATERIAL

            Nota-se neste item uma mudança na atenção dos historiadores culturais a partir a partir da década de 1980, para o estudo da cultura material. Essa mudança se tornou claramente visível: o mobiliário das igrejas, as formas materiais dos livros, as pichações e até a própria disposição do espaço, passaram a ser estudado como portadores de significados. Como destaque nessa cultura material são os temas: alimentos, vestuário e alimentação, relação entre o que se consome hoje e o se consumia no passado passou a ser vista como importante campo de pesquisa, para estudar as relações sociais.
            Outro tema de fundamental importância, para o estudo da cultura material, é à disposição do espaço dentro das casas ou das cidades. Seguindo o exemplo de Habernas e Foucault, muitos historiadores passaram a dar importância ao espaço: sagrado e profano, público e privado, etc.

            A HISTÓRIA DO CORPO

            O estudo do corpo como objeto da história era praticamente desconhecida até 1970, porém o sociólogo Gilberto Freire, em 1930 estudou os corpos dos escravos, baseando nos anúncios de jornais da época, ele descobriu que as cicatrizes descritas determinavam a região de origem de onde o escravo era trazido.
            A partir de 1980, vários historiadores passaram a estudar os corpos e os gestos como símbolos de significados importantes para a história. Alguns exemplos destes significados são o ato de rezar com as mãos postas e ajoelhado, que pode ser interpretado como herança dos ritos feudais da homenagem.
           
            REVOLUÇÃO NA HISTÓRIA CULTURAL

            O autor revela aqui a enorme quantidade de temas que surgiu com a ascensão da nova história cultural. Ele cita a frase do suíço Sigfried Giedion, “para o historiador não existe coisas banais” já que “Instrumentos e objetos são decorrências de atitudes fundamentais perante o mundo’’’’ (Burke, 2004, p.97) para ilustrar essa variedade de objetos de estudo. Também se nota algumas semelhanças como obras de autores do passado, como Huizinga, Burkardt e até do sociólogo Emile Durkhein, o que significa que essa virada coletiva na prática da história cultural aproxima mais de uma mudança de ênfase do que de algo realmente novo”.

            CAP. 5: DA REPRESENTAÇÃO À CONSTRUÇÃO

            Neste capítulo veremos que a idéia de “representação” como significado da realidade social, traz problemas para a NHC. Por esse motivo alguns historiadores passaram a falar em “construção” ou “produção” da realidade social por meio das representações.

            A ASCENÇÃO DO CONSTRUTIVISMO

            Diante da questão colocada em torno da representação, como retrato da realidade apresentado pelos historiadores tradicionais, novos historiadores, a partir do final do séc. XX, sentiram a necessidade de construir a “história a partir de baixo”, (Burke, 2004, p.101) focando a visão dos derrotado ou classes subalternas. Esse deslocamento de foco passou a ser chamado de construtivismo, pois propiciava espaço para o poder da imaginação social da realidade.

            REUTILIZAÇÃO DE MICHEL CERTEAU

            Michel de Certeau passou a ter importância destacada para a NHC, a partir de sua obra sobre a vida cotidiana na França (1980), ele enfatizou as “Praticas” das pessoas comuns como objeto de estudo. Para ele a práticas dessas pessoas eram conscientes e determinavam suas escolhas com base na criatividade.

            A RECEPÇÃO DE LITERATURA E ARTE

            Refere-se aqui aos deslocamentos dos estudos da arte, literatura, e música que deixa de se preocupar somente com os autores e interpretes, para considerar a importância dos receptores, ou seja, dos consumidores dessas artes.

            A INVENSÃO DA INVENSÃO

            Aqui o autor faz uma crítica sobre o enorme número de publicações que traz o rótulo de “construção”, “invenção” ou “imaginação” que segundo ele, muitos nada mais são do que uma reinvenção daquilo que já foi inventado.

            NOVAS CONSTRUÇÕES

            Para o estudioso norte-americano Hayden Write, o próprio passado é uma construção, ele desenvolveu a sua análise formalista que estudou as obras dos grandes historiadores do séc. XIX e relacionou a narrativa dessas obras com a construção de um enredo, seguindo um gênero literário, de acordo com o estilo de cada autor.

            A CONSTRUÇÃO DE CLASSE E DE GENERO

            Trata-se da possibilidade de flexibilidade e fluidez de termos que antes eram firmes e fixos. Os termos: classe e gênero, agora, podem se mover de acordo com o contexto social em que se encontra uma sociedade.

            A CONSTRUÇÃO DE COIMUNIDADES

            Destaca-se aqui a obra Imagined comunities, de Anderson, que deu uma contribuição importante para o estudo do nacionalismo moderno, tendo como característica uma visão não eurocêntrica , abordando a cultura e a política e enfatizando a história da imaginação. Para ele a cultura do nacionalismo é formada consciente ou inconscientemente pelas idéias de religião ou política.
            Também merece destaque a idéia de invenção da tradição, de Hobsbawm, que diz que as tradições podem ser muitas vezes recentes de origens, ou até mesmo inventadas.
            A partir da idéia de tradição e da busca pela identidade aproximando as semelhanças e evidenciando as diferenças, é que surge a construção da comunidade.

            A CONTRUÇÃO DA MONARQUIA

            Neste item o autor utiliza estudos de outros autores e também seus, para mostrar como a “representação” num sentido teatral, pode construir no imaginário das pessoas a imagem do real.
            Em Scenarios of Power (1995) de Richard Wortman, foca o poder do mito e da cerimônia explorados, como cenário, para a formação da monarquia russa.
            Outra obra citada é Splendid Monarchy: Power and Pageantry in Moder Japan (1996) de Takachi Fugitani, onde ele argumenta que a encenação feita por uma elite imperial japonesa em 1868, de que o império estava envolvido com as culturas e tradições das pessoas comuns, Convenceram-nas da importância do imperador.
            Em sua obra, A Fabricação do Rei, (1992) P. Burke, conta como a encenação, a ritualização, ou mesmo a teatralização da vida cotidiana de Luis XIV, ajudaram na formação da imagem do rei, e como essa, era criada e recriada no desempenho do papel e nas performances de representações do rei da França.

            A CONSTRUÇAÕ DAS IDENTIDADES INDIVIDUAIS

            A construção da identidade individual é de grande importância para a NHC, este estudo visa mostrar como as pessoas tentavam construir suas próprias identidades, Desde as pessoas comuns como os artesãos e os sapateiros, até personagens históricos importantes como Cristóvão Colombo. Esses estudos eram feitos sobre documentos como cartas, narrativas de viagens, diários e outros.

            PERFORMANCES E OCASSIÕES

DESEMPENHO NA HISTÓRIA CULTURAL


            A partir de 1970, os historiadores começaram a mudar o foco, do roteiro para a performance social. Citando vários estudos, o autor mostra como essa idéia de performance vem se destacando no contexto da história cultural. Rituais de batismo, ou casamentos, procissões, contos populares e boatos, são alguns exemplos de objetos de estudo da performance.
            O conceito de performance, no entanto é bem maior do que simples representação trata-se de uma recriação do papel desempenhado, sendo que, seu significado muda de acordo com a ocasião vivida.

            ASCENÇÃO DO OCASIONALISMO

            O autor aborda aqui, a capacidade que as pessoas possuem de mudar de comportamento e atitudes conforme a ocasião. Essa capacidade ele chama de ocasionalismo, que significa um distanciamento da idéia de reações fixa, pois as mesmas podem produzir respostas flexíveis, dependendo da lógica ocasional.

            DESCONSTRUÇÃO

            O autor enfatiza o papel dos historiadores na construção das categorias sociais. Citando a obra Mestizo Logic, (1991) do antropólogo francês Jean-Loup Amselle, sobre a identidade na África, onde ele argumenta contra a visão de tribos ou grupos étnicos, a favor do que ele chama de “Sistemas de Transformação”, pelo qual a identidade estaria em constante reconstrução.
            Essa construção social apresenta problemas, como: “quem esta fazendo a construção? Sob que restrições? A partir de que? (Burke, 2004, p.129) As respostas a essas questões devem levar em conta o motivo da construção, qual a visão do construtor, qual o contexto vivido por ele, e quais materiais foram usados”.
            Conforme surge novas idéias e novas circunstancias também surge à necessidade de transformações e adaptações nas tradições, isso se torna um processo de construção e reconstrução contínua, que precisará ser investigado e atualizado.

            CAP.6: ALÉM DA VIRADA CULTURAL

            Diante das criticas feitas à nova história cultural, o autor faz uma reflexão sobre o histórico da NHC, desde seu nascimento, passando pelo seu desenvolvimento até os dias atuais e sugere algumas alternativas para o futuro: um renascimento da história cultural tradicional que ele chamou de “o retorno de Burkardt”; continuar expandindo para outros domínios; ou reagir contra o construtivismo, que ele chamou de “a vingança da história social”.(Burke, 2004, p.132).

            O RETORNO DE BURKARDT

            O autor argumenta que as idéias de Burkardt, nunca desapareceram por completo da NHC, e sugere uma ênfase maior sobre a alta cultura, pois a mesma tem uma ausência notável nos estudos culturais atuais. Esses estudos poderiam, por exemplo, serem feito sobre a visão do iluminismo pelos grupos sociais, ou qual o impacto do renascimento na vida cotidiana.

            POLÍTICA, VIOLÊNCIA E EMOÇÕES.

            A HISTÓRIA CULTURAL DA POLÍTICA

            Neste item o objetivo é mostrar a proximidade entre política e cultura, e como esses termos é importante para a NHC, apesar dessa aproximação já ser notada no passado, foi nos estudos de Murray Edelman, no livro Polítcs as Simbolic Action, (1971) que se deu a “virada cultural”, abordando rituais e outros aspectos simbólicos do compartimento.
            Conceitos como “cultura política”, “regras de comportamento político” e “práticas simbólicos”, (Burke, 2004, p.136) surgiram como evidencias dessa aproximação entre as idéias de cultura e política.

            A HISTÓRIA CULTURAL DA VIOLÊNCIA

            Mostra-se que a relação entre cultura e violência, ou seja, a violência pode emergir de uma visão cultural. Estudos feitos sobre a primeira guerra mundial revelaram o poder simbólico representado pelos castelos, e frotas navais, que eram usados como uma espécie de “teatro” para ostentação de força e riqueza. Esse e outros estudos realizados sobre guerras, limpezas étnicas, tumultos, etc, segundo alguns historiadores dão sentidos culturais à violência, muitas vezes vista como algo sem sentido.

            A HISTÓRIA CULTURAL DAS EMOÇÕES

            Apesar de alguns historiadores, defender uma história das emoções, esse é um assunto que ainda não esta bem esclarecida neste livro. O autor cita algumas obras e alguns conceitos como: “revolução afetiva” “navegação ou administração emocional”, “regime emocional” e até mesmo “virada performativa”, porém não está claro o objeto de estudo desse tema. Para ele, os próprios historiadores das emoções, ainda não se decidiram se são minimalistas ou maximalistas, termos que, segundo ele, restringem ou ampliam, os focos e os objetos de estudo.

            A HISTÓRIA CULTURAL DA PERCEPÇÃO

            O autor cita várias obras e autores que estudaram a cultura dos sentidos, entre eles, Gilberto Freire que estudou o cheiro dos quartos de dormir no Brasil do séc. XIX, e o francês Alain Corbin, no livro Saberes e Odores, (1986) que estudou sobre a “imaginação social dos franceses”. (Burke, 2004, p.146) E muitas outras obras sobre som, ruídos sensibilidades, etc.
            O autor considera que um estudo geral dos sentidos é mais importante do que estudar cada sentido isoladamente.

            A VINGANÇA DA HISTÓRIA SOCIAL

            O autor chama a atenção para uma reação contra a NHC, que pode surgir em função da amplitude de seu campo de estudos, e apresenta três problemas, considerados especialmente sérios em seu programa: a definição de cultura, os métodos a serem seguidos na NHC, e o perigo da fragmentação. (Burke, 2004, p. 146) Ele revela uma enorme dificuldade em distinguir hoje, o que é cultural e o que é social, esses termos estão sendo usados de maneiras indissociáveis, assim como a definição, os métodos também não esclarecem, pois não existem meios, que possam desfazer o impasse que pode ser causado quando dois historiadores, lerem os mesmos objetos de formas diferentes; nem provas concretas que parcelas mínimas, usadas como estudo possa representar toda uma sociedade. E por último, o problema da fragmentação, como obter de um grupo pequeno, a representação de um todo.

            FRONTEIRAS E ENCONTROS

            As fronteiras podem ser físicas, ex: rios, oceanos ou fronteiras entre países, etc, ou culturais. As fronteiras culturais se distinguem em visões de fora e visões de dentro. Vistas de fora, as fronteiras culturais podem parecer visíveis e de fácil mapeamento, no entanto, podem esconder algumas culturas menores, como por exemplo: dentro de uma região de maioria católica, algumas famílias mulçumanas podem passar desapercebidas. Por isso, os historiadores precisam da visão de dentro, que torna perceptível aquilo que estava escondido.
            Outra distinção útil seria a função das fronteiras culturais, pois essa região, situada entre duas culturas, pode funcionar como “ponto de contato” dessas culturas.

            INTERPRETAÇÃO DOS ENCONTROS CULTURAIS

            O termo encontro cultural está relacionado a uma nova perspectiva na história e visa dar atenção, tanto a visão dos vencidos como a dos vencedores.
            Neste sentido, surgiram alguns termos de mudanças culturais: “tradução cultural”, “hibridez cultural” e “lingüística”, que são processos utilizados como meios, para proporcionar a adaptação a esses encontros culturais nos campos da religião, música, etc.

            NARRATIVA COMO HISTÓRIA CULTURAL

            O autor refere à possibilidade da volta da narrativa para o contexto da história cultural, porém essa “renovação da narrativa” seria voltada e preocupada com as experiências das pessoas comuns. Segundo o autor, a narrativa de feitos de determinado grupo, pode esconder a repressão a outro, e pode até mesmo mascarar a persistência da tradição e da violência.  

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